quarta-feira, março 21, 2007

Um quintal de moradia, final de tarde solarengo:

Algumas crianças correm animadamente atrás de um bola, outras entretêm-se com o brinquedo novo que o aniversariante acaba de receber como presente. Uma delas goza este momento com alguma inquietação. Procura brincar o tempo que lhe resta, sabendo que o seu pai que acaba de lhe chamar à atenção, enquanto descontraidamente remata a conversa com um conhecido, irá anunciar o momento de partir.

Arrastado no dia-a-dia, a falta de ocupação abre espaço às mais letargicas reflexões. Dou por mim a pensar em temas tão sinistros para tão jovem ser como a geriatria. Difícil dissociar-me da ideia que tudo tem um fim. Mas mais penoso que esse facto, o inexorável processo que se vai revelando lentamente.

Já não consigo olhar um idoso sem deixar de ver essa criança, agora presa a um corpo manifestamente débil, decadente: a anunciar o momento de partir.