Ah, Paris.. Quando o país foi afixado no quadro fiquei algo desanimado. A semana de campo preparava-nos para os mais exóticos desafios e Paris não me pareceu tão exótico. Que vou eu descobrir nesta cidade, conhecida pelo seu charme de revoluções, manequins e intelectuais?
Cidade medieval rejeitada por Luís XIV, que, a despeito dos parisienses, preferiu governar como deus sol do seu Château de Versailles, sofre uma profunda metamorfose na segunda metade do século XIX, que lhe atribui a aparência que hoje conhecemos. Napoleão III, delega ao prefeito de Paris, Georges Haussman, a condução de uma transformação que irá alterar 60% da cidade, atravessando-a com largas avenidas, ladeadas de edifícios de cinco ou seis andares, e instituindo a esquadria em triângulo - que aumenta o numero de fachadas sobre a rua, mas desorienta qualquer novato nos meandros da cidade.
É nesta altura que Monmartre é agregada à cidade. Berço do movimento impressionista e do circuito boémio do Moulin Rouge, viu passar Monet ou Degas, Toulouse Lautrec ou Picasso (até mesmo a Amelie Poulin). Hoje, o Moulin Rouge nao é mais do que uma utilização gasta do fascínio do passado, sem brilho e sem interesse. Partimos deste bairro para ver a vista sobre a cidade: subimos do Pigale à Place des abbesses, esgueiramo-nos por uma pequena rua de edifícios baixos e já se apresentam as pequenas esplanadas, dispostas ao primeiro raio de sol, não importa o pedaço de passeio que lhe foi atribuído. Subimos umas escadas, e chegamos ao Rendez Vous Des Amis. Aí aproveitamos para beber uma cerveja, enquanto observamos a vista sobre a cidade insinuando-se entre dois edifícios. Mais acima está o Sacré Cœur. A vista é esplêndida, mas os turistas abundam.
Se projectaram o Concorde ou o TGV, os franceses não demonstraram menos génio ao instalar as Velibs em Paris. Com 20 bairros, um terreno relativamente plano, e uma imensidão de sítios de interesse a visitar, Paris foi feita para pedalar! A cada 300 metros, uma estação com bicicletas confortáveis e prontas a usar. A cidade é afável com os ciclistas, que gozam um estatuto respeitado: meio caminho entre estrada, as ciclovias e os circuitos para peões. Pego na minha velib. Vejo as fachadas seguirem-se e pedalo junto ao Sena. Lá à frente a Notre Dame já se descobre, rodeada de árvores, e todas as pontes que parecem se atropelar para a abordar. Já passámos St. Michel e a Pont Neuf e uma multidão de japoneses acena entusiasta dos barcos que passam, um a seguir ao outro, lentamente, Sena a cima, Sena a baixo, enquanto grupos de amigos se aglomeram na borda do rio, tragam baguettes com chèvre e trocam brindes de rouge ao final da tarde. A Torre Eiffel insinua-se por trás do museu d’Orsay que avistamos ao fundo, ao atravessarmos a ponte em direcção à outra margem. Passamos os arcos e entramos no carrousel do Louvre, seguindo com a imaginação os cavaleiros que ai troteavam para o Rei e já a pirâmide do museu nos desperta para a realidade e descobrimos as tuilleries à nossa esquerda, a prometer um passeio em jardins desenhados a régua e esquadro, à francesa, plenos de linhas rectas e simetrias.
Colorido e de arquitectura industrial, o museu Pompidou ergue-se imponente no coração do Marais, indiferente ao contraste evidente que cria com os edifícios circundantes. Abriga obras de Kadinsky, Brzeska ou Pollock. Mas, se subirmos até ao último andar, descobrimos que algo mais se revela. O edifício foi construído um pouco mais alto que os edifícios à volta. O suficiente para compreendermos que o andar cimeiro foi reservado para os principais monumentos da cidade, ou talvez apenas para nos lembrar da sua presença. E lá está o Sacre Cœur, a vigiar a cidade do topo da colina, a Opera, Les Halles, a Bolsa, os telhados do Louvre ou a Torre Eiffel.
Em Paris, uma viagem à Índia fica para os lados da Gare du Nord e Beijing é logo ali, em Belleville. Um transeunte inadvertido será surpreendido ao aproximar-se da Rua Faubourg St Denis. Existe uma fronteira invisível para lá da qual viajamos 7 mil quilómetros até à Índia e são raras as pessoas com quem nos cruzamos que não aparentam vir de uma qualquer rua de Mumbai. Restaurantes, lojas de telemóveis, mercearias, néones coloridos em sânscrito e negociatas em Marati. No final da rua, de novo Paris. Outro passeio interessante, será sair na estação de metro de Belleville. Se descermos o Boulevard de Bellevile, teremos mercearias, restaurantes e bares (sim, bares) com esplanada, geridos pela comunidade muçulmana. Por todo o lado abundam especialidades argelinas, pastelaria marroquina ou indivíduos em trajes tradicionais. O cenário sera bem diferente se subirmos a inclinada Rue de Belleville. Não levara muito tempo até que nos demos conta que se multiplicam os traços orientais e que os transeuntes não falam francês. Aqui é o melhor sítio para comer chinês. A pequena comunidade vive como se nunca tivesse abandonado o país da muralha. Cabeleireiros chineses, supermercados com produtos desconhecidos de qualquer francês, e onde adolescentes de traços orientais registam o preço de embalagens com caracteres indecifráveis, enquanto alternam, com desenvoltura, o francês e o mandarim. Um pouco acima já abandonámos a China e cruzamos um grupo de locais a dançar o tango. É tempo para um pequeno apéro ao som da banda convidada, numa esplanada sobre o Jardim de Belleville, e mais uma bela vista sobre a cidade.
terça-feira, julho 07, 2009
terça-feira, outubro 28, 2008
Mmmmmm..... Anarquista de extrema esquerda?..
Porque não experimentar?
http://www.politicalcompass.org/test
Porque não experimentar?
http://www.politicalcompass.org/test
segunda-feira, outubro 06, 2008
Esta imagem faz da expressão: "por essa estrada ainda te vais meter em sarilhos", a mais banal das indicações rodoviárias.
E não é que, para os lados da Moita, existe mesmo uma terra a quem alguém se lembrou de chamar Sarilhos Pequenos e, ali ao lado, podemos mesmo ir dar a Sarilhos Grandes!
Moral da história: Quem sai de Chão Duro é para se meter em Sarilhos.
Ótima oportunidade para tomar um café com vista para o Tejo.
quinta-feira, setembro 25, 2008
Soltar amarras e sentir o barco a libertar-se suavemente, a balançar. Os sons mudos da água lançam um manto de tranquilidade na paisagem que me rodeia. O horizonte arde escarlate, antes de ceder finalmente ao anoitecer que se aproxima. Multiplicam-se os sinais daqueles que esperavam a noite para se lançarem no território para lá dos seus refúgios, demasiado exposto durante o dia. Uma orquestra de grilos ensaia um concerto em lá menor, enquanto uma cigarra distraida mantém um solo lírico por mais alguns minutos. O guincho impertinente de uma ave de rapina interrompe este espetáculo, que rápidamente se recompõe e retoma o seu tom destacado. Ao longe descubro o som de um mocho e adivinho o vaguear hesitante de um roedor esfomeado.
Facturar, aumentar o lucro, especular, distribuir dividendos e calcular margens, retalhar, retalhar.
Arrepiante, ouvir o Corporate Cannibal da Grace Jones, com um toque de Tricky à mistura.
Facturar, aumentar o lucro, especular, distribuir dividendos e calcular margens, retalhar, retalhar.
Arrepiante, ouvir o Corporate Cannibal da Grace Jones, com um toque de Tricky à mistura.
quarta-feira, julho 23, 2008
Car runs on water?
Há muito que se fantasia sobre um carro movido apenas a água. Numa altura em que o petróleo atinge preços proibitivos e reafirma a sua utilidade no fabrico de tupperwares e pastilhas elásticas (não como combustível), é estranho que um tema tão do interesse geral não surja no enquadramento dos telejornais portugueses.
Resta saber se é verdadeira esta tecnologia..
quinta-feira, maio 01, 2008
Vi o Sicko do Michael Moore e recomendo-o.
Sobretudo lembrou-me que o sistema nacional de saúde, comum à maioria dos estados ocidentais, não é apenas uma questão económica. É o reflexo da sociedade em que queremos viver. A vida é incerta, a morte nem tanto. O último reduto de uma ideia de conjunto que podemos alimentar é o respeito inequivoco por esse bem frágil e precioso que é a vida de cada um. Pagamos impostos para que um dia, quando mais precisarmos, sabermos que a comunidade partilha a sua cota de responsabilidade no apaziguar do nosso sofrimento. E isto, como dizê-lo, é uma ideia bonita, mas infelizmente violável.
Embora esquecido e invisivel aos nossos olhos, que damos por adquirido o direito aos cuidados de saúde universais, existe um país, curiosamente o mais rico do mundo, onde esta certeza não existe. Aqui o direito ao tratamento é negociado entre as seguradoras e cada um dos cidadãos anónimos, como se de um bem material se tratasse. É chato negociar o arranjo de um pára-choques amolgado, mas mais delicado é negociar um transplante de medula, ou um antibiótico quando disso depende a nossa vida. De um lado uma pessoa desperada, do outro uma equipa de advogados. Negar o primeiro é oportunismo contabilístico, negar o segundo é perverso, quando sabemos que o doente em causa não tem alternativa acessivel.
Um tipo com fome, ou ressaca, que aponta uma arma pelos 200 dólares duma caixa registadora é preso como uma ameaça à sociedade, um outro que promove, com calculista lucidez, a aprovação de uma lei que condena milhões de pessoas a uma degradação ou morte evitável, conquista um salário de 2 milhões de dólares e o topo da hierarquia social.
O que me leva a pensar que o Bin Laden, ao pé destes senhores, é um menino. E as crianças têm o direito de brincar... sobretudo se for na casa de um destes senhores.
Sobretudo lembrou-me que o sistema nacional de saúde, comum à maioria dos estados ocidentais, não é apenas uma questão económica. É o reflexo da sociedade em que queremos viver. A vida é incerta, a morte nem tanto. O último reduto de uma ideia de conjunto que podemos alimentar é o respeito inequivoco por esse bem frágil e precioso que é a vida de cada um. Pagamos impostos para que um dia, quando mais precisarmos, sabermos que a comunidade partilha a sua cota de responsabilidade no apaziguar do nosso sofrimento. E isto, como dizê-lo, é uma ideia bonita, mas infelizmente violável.
Embora esquecido e invisivel aos nossos olhos, que damos por adquirido o direito aos cuidados de saúde universais, existe um país, curiosamente o mais rico do mundo, onde esta certeza não existe. Aqui o direito ao tratamento é negociado entre as seguradoras e cada um dos cidadãos anónimos, como se de um bem material se tratasse. É chato negociar o arranjo de um pára-choques amolgado, mas mais delicado é negociar um transplante de medula, ou um antibiótico quando disso depende a nossa vida. De um lado uma pessoa desperada, do outro uma equipa de advogados. Negar o primeiro é oportunismo contabilístico, negar o segundo é perverso, quando sabemos que o doente em causa não tem alternativa acessivel.
Um tipo com fome, ou ressaca, que aponta uma arma pelos 200 dólares duma caixa registadora é preso como uma ameaça à sociedade, um outro que promove, com calculista lucidez, a aprovação de uma lei que condena milhões de pessoas a uma degradação ou morte evitável, conquista um salário de 2 milhões de dólares e o topo da hierarquia social.
O que me leva a pensar que o Bin Laden, ao pé destes senhores, é um menino. E as crianças têm o direito de brincar... sobretudo se for na casa de um destes senhores.
terça-feira, abril 29, 2008
segunda-feira, abril 28, 2008
Ás vezes dou por mim renitente em assumir que estou. Indeciso de ser, embriagado pela tentação de não passar de substância volúvel, em contínua observação, matéria em construção, a definir. Mas tudo à minha volta me pressiona a mostrar que existo, que tomo uma posição, que não sou indiferente.
Este fim de semana, no meio do mar, não pude deixar de assistir a uma metáfora da minha vida. O mar revolto do alentejo dava ares da sua beleza rude e eu insistia em poupar o meu fôlego e energias para aquela onda ideal, aquela formação que justificaria cada entrega dos meus movimentos, uma onda em que eu fluiria com gratificante prazer, satisfeito por me ter lançado a ela. As ondas iam passando e eu hesitava repetidamente. Argumentos não faltavam: um surfista mais bem colocado, uma onda que iria fechar abrutamente, uma parede demasiado íngreme e intimidante.
No mar, um pouco como na vida, existe um fronteira que divide a zona de rebentação ( ou inside), da zona de calma onde as ondas não rebentam ( o outside). Esta fronteira nem sempre está claramente definida, mas é neste limbo que o surfista se coloca. É aqui, onde a onda atinge a sua altura máxima antes de ceder ao peso da sua crista e rebentar, que se aproveita o seu impulso para fluir ao longo da massa de água, que se ergue paralela à costa. Alguns metros para lá desta linha e apenas se colhe uma massa de água turbulenta, alguns metros atrás e a impulsão não chega para nos arrastar.
Embora no outside, a corrente arrastava para a zona de rebentação e eu, ora cedia hesitante, preparando-me para me lançar a alguma onda, ora regressava ao outside para evitar um set inesperado. Foram inúmeras as hesitações e a cada duas aproximava-me do inside e as ondas rebentavam diante de mim, envolvendo-me numa turba de água revolta. É certo que "apanhei" algumas ondas, mas não tantas como poderia ter apanhado se não estivesse tão preocupado em controlar o momento, em querer o mar moldado a mim, rogando pragas a poseidon pela falta de consideração.
Insisto (é patológico) em querer ficar no outside a escolher ondas à la carte, mas a vida sempre me puxa para a realidade com violentas turbas de água.
Moral da história: Hajam umas ondas pelo caminho.
PS: Eu gosto de surfar mas sou um gajo com um pulmão fraquinho.
Este fim de semana, no meio do mar, não pude deixar de assistir a uma metáfora da minha vida. O mar revolto do alentejo dava ares da sua beleza rude e eu insistia em poupar o meu fôlego e energias para aquela onda ideal, aquela formação que justificaria cada entrega dos meus movimentos, uma onda em que eu fluiria com gratificante prazer, satisfeito por me ter lançado a ela. As ondas iam passando e eu hesitava repetidamente. Argumentos não faltavam: um surfista mais bem colocado, uma onda que iria fechar abrutamente, uma parede demasiado íngreme e intimidante.
No mar, um pouco como na vida, existe um fronteira que divide a zona de rebentação ( ou inside), da zona de calma onde as ondas não rebentam ( o outside). Esta fronteira nem sempre está claramente definida, mas é neste limbo que o surfista se coloca. É aqui, onde a onda atinge a sua altura máxima antes de ceder ao peso da sua crista e rebentar, que se aproveita o seu impulso para fluir ao longo da massa de água, que se ergue paralela à costa. Alguns metros para lá desta linha e apenas se colhe uma massa de água turbulenta, alguns metros atrás e a impulsão não chega para nos arrastar.
Embora no outside, a corrente arrastava para a zona de rebentação e eu, ora cedia hesitante, preparando-me para me lançar a alguma onda, ora regressava ao outside para evitar um set inesperado. Foram inúmeras as hesitações e a cada duas aproximava-me do inside e as ondas rebentavam diante de mim, envolvendo-me numa turba de água revolta. É certo que "apanhei" algumas ondas, mas não tantas como poderia ter apanhado se não estivesse tão preocupado em controlar o momento, em querer o mar moldado a mim, rogando pragas a poseidon pela falta de consideração.
Insisto (é patológico) em querer ficar no outside a escolher ondas à la carte, mas a vida sempre me puxa para a realidade com violentas turbas de água.
Moral da história: Hajam umas ondas pelo caminho.
PS: Eu gosto de surfar mas sou um gajo com um pulmão fraquinho.
sexta-feira, fevereiro 29, 2008
Revolução
E não é para menos. Das 19:55 às 20:00. 5 minutos inteirinhos sem ligar nenhum equipamento electronico em casa.
Para a próximo podiamos ser mais ambiciosos e, sei lá, ficar para ai 6 minutos sem ligar a televisão. Que isto das boas acções deve ter uma metodologia ambiciosa para atingir as metas a que se propõe.
Para celebrar: uma mega festa e convidar o pessoal todo da zona, cada um no seu automóvel, porque a malta é independente e gosta de ouvir aquele som que teve a sacar a noite toda na net. Monta-se o sistema de som, um sistema de luzes bem bacano, mete-se uns filmes a passar na tv e toca a bombar na bimbi umas caipirinhas, enquanto as pipocas vão estalando no micro-ondas. Ao computador um grupo reune-se curioso em conhecer o impacto global desta genial iniciativa.
No dia seguinte, estes venerados cidadãos conscientes despertam confiantes do dever cumprido e apressam-se a ligar a toda a gente a contar a boa nova.
Há coisas que me comovem de tão parvas..
Para a próximo podiamos ser mais ambiciosos e, sei lá, ficar para ai 6 minutos sem ligar a televisão. Que isto das boas acções deve ter uma metodologia ambiciosa para atingir as metas a que se propõe.
Para celebrar: uma mega festa e convidar o pessoal todo da zona, cada um no seu automóvel, porque a malta é independente e gosta de ouvir aquele som que teve a sacar a noite toda na net. Monta-se o sistema de som, um sistema de luzes bem bacano, mete-se uns filmes a passar na tv e toca a bombar na bimbi umas caipirinhas, enquanto as pipocas vão estalando no micro-ondas. Ao computador um grupo reune-se curioso em conhecer o impacto global desta genial iniciativa.
No dia seguinte, estes venerados cidadãos conscientes despertam confiantes do dever cumprido e apressam-se a ligar a toda a gente a contar a boa nova.
Há coisas que me comovem de tão parvas..
sexta-feira, fevereiro 22, 2008
Management..
Management: Comprises planning, organizing, resourcing, leading or directing, and controlling an organization (a group of one or more people or entities) or effort for the purpose of accomplishing a goal. Resourcing encompasses the deployment and manipulation of human resources, financial resources, technological resources, and natural resources.
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Tim Roth é um actor inglês de protagonismo discreto mas contundente.
Em "A lenda de 1900" é Danny Boodman T.D. Lemons 1900, o pianista da banda, num paquete de luxo, onde é precocemente abandonado pelos pais biológicos e adoptado por um maquinista, que o cria entre o vapor da casa das máquinas. Fascinado aos primeiros contactos com os sons da banda, no salão nobre do navio, acaba ele próprio o centro de todas as atenções, em inspiradas actuações que vive com despretenciosa satisfação. Nunca deixa o navio. Ao piano é insuperável, mas é incapaz de cruzar a porta para lá do casco que o acolhe.
Ao seu amigo Max confessa: "Sabes, aqui dentro conheço cada uma das teclas e suas subtilezas: consigo combiná-las numa infinidade de sons. Lá fora o número de teclas é infinito, não sei nem como começar."
segunda-feira, janeiro 28, 2008
De seu nome Charlène, esta jovem cantautora francesa de 20 e poucos anos foi descoberta por uma editora independente portuguesa - a Merzbau- e que pérola revelaram este nossos compatriotas. Não consegui deixar de esboçar sorrisos compulsivos a cada nova música que, este sábado, ela partilhou com o pequena plateia lisboeta, ali para os lados de santos.
Podem tratá-la por Chat, embora também seja conhecida por Mademoiselle.
Ecoutez
quarta-feira, janeiro 09, 2008
domingo, dezembro 23, 2007
Debaixo de água..
-As baleias conseguem aguentar cerca de meia hora debaixo de água sem respirar..
Eu propunha-me aguentar muito mais do que isso.
Indiferente à natureza fisiológica do meu corpo, mergulhara bem fundo no mar.
Não sei bem como tudo começou. Como um asteróide à deriva afastava-me lenta e gradualmente da superficie. Sem me debater, avançava em direcção ao fundo, onde a luz rareava.
A dez metros de mim reparo em alguém. E está ali outro: estou rodeado de gente.. Que estranho?
- Tudo beEm?
Não parece ouvir-me.. Os sons propagam-se de forma diferente aqui.. Grito mais alto. Continua sem me ouvir. Sinto que grito para uma densa barreira de água. Espera, está a olhar para aqui.. Faço sinais com dificuldade, a viscosidade da água não me permite grandes entusiasmos.
Parece querer dizer-me qualquer coisa.. Não percebo o que diz. Não percebo nada.
-Espeera, vou aproximaar-me.
Nado na sua direcção. Esboço os primeiros movimentos com dificuldade. Dir-se-ia que nunca aprendi a nadar, tal é a forma descoordenada como me movo. Deve ser do entorpecimento dos músculos ou talvez da profundidade. Concentro-me na formação de bruços e esforço-me por persuadir o meu corpo a responder ao meu ímpeto. Avanço com dificuldade.. O meu interlocutor não parece estar tão longe. Alguns gestos mais e estarei à sua frente.
Estranho, subestimei a distância. Continuo afastado. Não só não me aproximei, como pelo contrário estou agora a mais de vinte metros desta pessoa. Ela parece não se aperceber de nada e mantém um olhar de apatia.
Deriva.
-As baleias conseguem aguentar cerca de meia hora debaixo de água sem respirar..
Eu propunha-me aguentar muito mais do que isso.
Indiferente à natureza fisiológica do meu corpo, mergulhara bem fundo no mar.
Não sei bem como tudo começou. Como um asteróide à deriva afastava-me lenta e gradualmente da superficie. Sem me debater, avançava em direcção ao fundo, onde a luz rareava.
A dez metros de mim reparo em alguém. E está ali outro: estou rodeado de gente.. Que estranho?
- Tudo beEm?
Não parece ouvir-me.. Os sons propagam-se de forma diferente aqui.. Grito mais alto. Continua sem me ouvir. Sinto que grito para uma densa barreira de água. Espera, está a olhar para aqui.. Faço sinais com dificuldade, a viscosidade da água não me permite grandes entusiasmos.
Parece querer dizer-me qualquer coisa.. Não percebo o que diz. Não percebo nada.
-Espeera, vou aproximaar-me.
Nado na sua direcção. Esboço os primeiros movimentos com dificuldade. Dir-se-ia que nunca aprendi a nadar, tal é a forma descoordenada como me movo. Deve ser do entorpecimento dos músculos ou talvez da profundidade. Concentro-me na formação de bruços e esforço-me por persuadir o meu corpo a responder ao meu ímpeto. Avanço com dificuldade.. O meu interlocutor não parece estar tão longe. Alguns gestos mais e estarei à sua frente.
Estranho, subestimei a distância. Continuo afastado. Não só não me aproximei, como pelo contrário estou agora a mais de vinte metros desta pessoa. Ela parece não se aperceber de nada e mantém um olhar de apatia.
Deriva.
sexta-feira, outubro 19, 2007
quarta-feira, outubro 10, 2007
segunda-feira, setembro 24, 2007
Acorda cedo com um silvado ruídoso, dissipa-se o sonho e a tranquilidade do sono. É mais um dia que se desenha para lá da cama e a rotina já se apressa a o levantar. A água afaga-lhe o corpo com a ternura que tarda. Mais um dia de sorrisos treinados, sem brilho, sem vontade, simulados para se enganar. Pelo menos só mais um pouco. Quem sabe um dia também ele vai acreditar que a vida é isto: rotineira e asséptica. Sem um pedaço de si. Ou apenas isso. Cigarra triste no papel de formiga.
segunda-feira, agosto 13, 2007
sexta-feira, julho 20, 2007
Uma autora russa descreveu assim o "elemento feminino"..
"...por natureza tão paradoxalmente generoso para com os que abusam dele e cruel até ao extermínio para com os que se lhe rendem"
Fala da mulher, fala dela, com culpabilidade, mas fala sobretudo de algo que não será exclusivo do feminino..
Fala da mulher, fala dela, com culpabilidade, mas fala sobretudo de algo que não será exclusivo do feminino..
quarta-feira, julho 18, 2007
"Pena capital em caso de escravatura"
Um artigo no jornal Público de hoje diz o seguinte:
"Pena capital em caso de escravatura
Um caso de escravatura envolvendo 30 adultos e crianças numa fábrica chinesa terminou com uma condenação à morte e uma sentença de prisão perpétua, num total de 28 condenações, noticiou a AFP.
Zhao Yanbing, empregado numa olaria da província de Shanxi, no norte do país, foi condenado à pena capital após ter sido considerado cuplado por agredir um operário com uma pá, em 2006.
Um dos chefes da mesma fábrica, foi condenado a prisão perpétua, também por maus tratos. O patrão, Wang Bingbing (do bling-bling), filho do responsável local do Partido Comunista, ficará na prisão por nove anos. A pena mais baixa entre os 28 condenados foi de 18 meses de prisão.
Os 30 trabalhadores foram libertados em Junho e disseram que trabalhavam sob vigilância de guardas e cães, eram constantemente agredidos, alvo de troça e apenas tinham direito a refeições mínimas.
Nos próximos dias, serão lidas as sentenças de 12 arguidos noutros casos de escravatura."
Interessante descoberta de um gap cultural com estes individuos orientais cujo conceito de equidade tem uma interpretação completamente diferente da nossa.
Ora vejamos a fascinante distribuição de sentenças:
Empregado: pena capital
Chefe: prisão perpétua
Patrão: 9 anos de prisão
Grandes são as esperanças na justiça da Républica Popular Chinesa...
"Pena capital em caso de escravatura
Um caso de escravatura envolvendo 30 adultos e crianças numa fábrica chinesa terminou com uma condenação à morte e uma sentença de prisão perpétua, num total de 28 condenações, noticiou a AFP.
Zhao Yanbing, empregado numa olaria da província de Shanxi, no norte do país, foi condenado à pena capital após ter sido considerado cuplado por agredir um operário com uma pá, em 2006.
Um dos chefes da mesma fábrica, foi condenado a prisão perpétua, também por maus tratos. O patrão, Wang Bingbing (do bling-bling), filho do responsável local do Partido Comunista, ficará na prisão por nove anos. A pena mais baixa entre os 28 condenados foi de 18 meses de prisão.
Os 30 trabalhadores foram libertados em Junho e disseram que trabalhavam sob vigilância de guardas e cães, eram constantemente agredidos, alvo de troça e apenas tinham direito a refeições mínimas.
Nos próximos dias, serão lidas as sentenças de 12 arguidos noutros casos de escravatura."
Interessante descoberta de um gap cultural com estes individuos orientais cujo conceito de equidade tem uma interpretação completamente diferente da nossa.
Ora vejamos a fascinante distribuição de sentenças:
Empregado: pena capital
Chefe: prisão perpétua
Patrão: 9 anos de prisão
Grandes são as esperanças na justiça da Républica Popular Chinesa...
sábado, junho 30, 2007
sábado, junho 16, 2007
Sinceridade
O nível de sinceridade que temos para com os outros depende do nível de sinceridade que temos para com nós próprios.
terça-feira, maio 22, 2007
The Littlest Hobo
Desenterrei isto na net.
De tanto procurar lá encontrei. A música foi a prova categórica que era isto que procurava.
Confirma-se: a memória é selectiva e ainda bem.
Este cão deixou marca no puto dos 80s. Para o bem e para o mal, revejo-me no animal.
De tanto procurar lá encontrei. A música foi a prova categórica que era isto que procurava.
Confirma-se: a memória é selectiva e ainda bem.
Este cão deixou marca no puto dos 80s. Para o bem e para o mal, revejo-me no animal.
terça-feira, maio 15, 2007
Amor bomba
"Todo o comportamento de Dalila não insinua sequer o amor, e, contudo, é esta mulher traidora e cruel que sansão adora, e, como já notámos, pode bem ser que seja essa faceta de traição que nela ama, o que força o leitor a ampliar e afrouxar a vera definição de amor: é, provavelmente, a crueldade de Dalila, a sua paixão quase transparente por o ferir que o amarra a ela com laços ínvios, laços estes revelando-se mais fortes do que quaisquer outros precedentes e que, por conseguinte, pela primeira vez, lhe despertam o amor.(...)
E se, pelo seu lado, era vero amor, pode-se suspeitar (talvez apenas por mero desejo nosso) que Sansão permita que Dalila o engane repetidas vezes porque espera, em plena desesperança, estar ele próprio enganado;(...)
Talvez. E por causa disto ele lhe confiou kol libo, nada menos que o seu coração inteiro, que ela acusara de arrendamento e engano: tudo o que ele tinha ocultado, suprimido e entesourado dentro, por tantos anos. Num lapso momentâneo, Sansão dá-lhe tudo, com o mesmo género de loucura, de esbanjamento de cortar a respiração que por vezes aflige o mais retrógado dos míseros; com a tola inocência daquele que acredita que se confiar alguma coisa a outra pessoa, de repente, numa espécie de transferência instantânea, finalmente chegará a um sentimento de intimidade autêntica."
Love sucks!
Determinadas análises trazem-me um misto de consolo e inquietação..
Até que ponto são as nossas experiências pessoais genuínas, se as encontramos descritas por alguém a quem nada confessámos.
E se, pelo seu lado, era vero amor, pode-se suspeitar (talvez apenas por mero desejo nosso) que Sansão permita que Dalila o engane repetidas vezes porque espera, em plena desesperança, estar ele próprio enganado;(...)
Talvez. E por causa disto ele lhe confiou kol libo, nada menos que o seu coração inteiro, que ela acusara de arrendamento e engano: tudo o que ele tinha ocultado, suprimido e entesourado dentro, por tantos anos. Num lapso momentâneo, Sansão dá-lhe tudo, com o mesmo género de loucura, de esbanjamento de cortar a respiração que por vezes aflige o mais retrógado dos míseros; com a tola inocência daquele que acredita que se confiar alguma coisa a outra pessoa, de repente, numa espécie de transferência instantânea, finalmente chegará a um sentimento de intimidade autêntica."
Love sucks!
Determinadas análises trazem-me um misto de consolo e inquietação..
Até que ponto são as nossas experiências pessoais genuínas, se as encontramos descritas por alguém a quem nada confessámos.
sexta-feira, maio 04, 2007
Dave, um cínico e amargurado escritor, lê o seu último conto publicado a Ginny, uma espalhafatosa showgirl analfaneta.
Dave: Então? Gostaste?
Ginny: Oh, sim! Muito!
Dave: E o que é gostaste mais?
Ginny: Ah, não sei. As pessoas.. Gostei muito de... ...de todas! Gostei muito das pessoas.
Dave: Mas que pessoas? Que personagem? Este? Aquele? Percebeste alguma coisa daquilo que te acabo de ler!?
Ginny: Não sei.. Gostei muito da história!.. Gostei de tudo!
Dave: Não vale a pena!....És uma burra! Uma incapaz! Não podes compreender nada do que te digo..
Ginny: Oh, Dave, não fiques assim. Eu também não te compreendo e, no entanto, sei que te amo.
(Dave, surpreendido, aproxima-se de Ginny.)
Dave: Ginny... - aceitas casar comigo?
Dave: Então? Gostaste?
Ginny: Oh, sim! Muito!
Dave: E o que é gostaste mais?
Ginny: Ah, não sei. As pessoas.. Gostei muito de... ...de todas! Gostei muito das pessoas.
Dave: Mas que pessoas? Que personagem? Este? Aquele? Percebeste alguma coisa daquilo que te acabo de ler!?
Ginny: Não sei.. Gostei muito da história!.. Gostei de tudo!
Dave: Não vale a pena!....És uma burra! Uma incapaz! Não podes compreender nada do que te digo..
Ginny: Oh, Dave, não fiques assim. Eu também não te compreendo e, no entanto, sei que te amo.
(Dave, surpreendido, aproxima-se de Ginny.)
Dave: Ginny... - aceitas casar comigo?
"N. tem a fraquesa de só admitir o que todos reconhecem (...) bom senão enquanto serve para encetar uma carreira (...) Para N. as ideias e os raciocínios são um divertimento, uma espécie de passatempo. (...) Para mim, pelo contrário, só o que não são ideias é divertimento. (...) Quando uma ideia me preocupa, tudo o mais, para mim, é apenas um espetáculo divertido."
Partilha, o Pedro, com a sua cúmplice e mulher, Natacha Bezukov.
Partilha, o Pedro, com a sua cúmplice e mulher, Natacha Bezukov.
quarta-feira, maio 02, 2007
quarta-feira, abril 11, 2007
Não esquecer que a generalidade dos valores que se instituem servem para suportar a sociedade como um todo, um organismo que defende a sua sobrevivência, independentemente dos interesses de cada um de nós. Eventualmente, os dois interesses convergem. Sobretudo quando esta assenta num sistema democrático, em que os desejos das massas ditam as prioridades.
Sublinhar o facto de que falamos de massas, não do individuo. Este dissolve-se nesse conceito mais abrangente e ambíguo que é a vontade geral, a maioria. Cujas vontades são manipuladas objectiva, ou subjectivamente, por entidades mais ou menos obscuras.
O homem explora o homem, só que de forma mais sofisticada, dissimulada. É, e sempre será assim. É um facto que hoje temos mais direitos. No entanto, surgiram novas necessidades.
Se antes vivemos oprimidos por regimes totalitários que cegavam as gentes com culto do líder, jornalismo manipulado, repressão e perseguição, hoje, mobiliza-se as gentes para o frenesim, o stress, a urgência de tudo. A necessidade de ter e fazer tudo, independentemente da sua intima satisfação: de forma insaciável.. O que, naturalmente, deixa as hostes esgotadas. O fim é o mesmo: limitar a capacidade de pensar como individuo, de olhar para dentro, de viver à rebelia das massas.
Se não lhe forem impostos, o homem, apressa-se a construir os seus limites. Está lhe na natureza.
E cada um cria os seus..
Sublinhar o facto de que falamos de massas, não do individuo. Este dissolve-se nesse conceito mais abrangente e ambíguo que é a vontade geral, a maioria. Cujas vontades são manipuladas objectiva, ou subjectivamente, por entidades mais ou menos obscuras.
O homem explora o homem, só que de forma mais sofisticada, dissimulada. É, e sempre será assim. É um facto que hoje temos mais direitos. No entanto, surgiram novas necessidades.
Se antes vivemos oprimidos por regimes totalitários que cegavam as gentes com culto do líder, jornalismo manipulado, repressão e perseguição, hoje, mobiliza-se as gentes para o frenesim, o stress, a urgência de tudo. A necessidade de ter e fazer tudo, independentemente da sua intima satisfação: de forma insaciável.. O que, naturalmente, deixa as hostes esgotadas. O fim é o mesmo: limitar a capacidade de pensar como individuo, de olhar para dentro, de viver à rebelia das massas.
Se não lhe forem impostos, o homem, apressa-se a construir os seus limites. Está lhe na natureza.
E cada um cria os seus..
quarta-feira, março 21, 2007
Um quintal de moradia, final de tarde solarengo:
Algumas crianças correm animadamente atrás de um bola, outras entretêm-se com o brinquedo novo que o aniversariante acaba de receber como presente. Uma delas goza este momento com alguma inquietação. Procura brincar o tempo que lhe resta, sabendo que o seu pai que acaba de lhe chamar à atenção, enquanto descontraidamente remata a conversa com um conhecido, irá anunciar o momento de partir.
Arrastado no dia-a-dia, a falta de ocupação abre espaço às mais letargicas reflexões. Dou por mim a pensar em temas tão sinistros para tão jovem ser como a geriatria. Difícil dissociar-me da ideia que tudo tem um fim. Mas mais penoso que esse facto, o inexorável processo que se vai revelando lentamente.
Já não consigo olhar um idoso sem deixar de ver essa criança, agora presa a um corpo manifestamente débil, decadente: a anunciar o momento de partir.
Algumas crianças correm animadamente atrás de um bola, outras entretêm-se com o brinquedo novo que o aniversariante acaba de receber como presente. Uma delas goza este momento com alguma inquietação. Procura brincar o tempo que lhe resta, sabendo que o seu pai que acaba de lhe chamar à atenção, enquanto descontraidamente remata a conversa com um conhecido, irá anunciar o momento de partir.
Arrastado no dia-a-dia, a falta de ocupação abre espaço às mais letargicas reflexões. Dou por mim a pensar em temas tão sinistros para tão jovem ser como a geriatria. Difícil dissociar-me da ideia que tudo tem um fim. Mas mais penoso que esse facto, o inexorável processo que se vai revelando lentamente.
Já não consigo olhar um idoso sem deixar de ver essa criança, agora presa a um corpo manifestamente débil, decadente: a anunciar o momento de partir.
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
Pensamento Ecológico
Já toda a gente deve ter constatado, alguns até padecerão deste mal, que anda para ai uma febre ecológica crescente que ameaça afundar as nossas consciências como o maremoto fez a Lisboa em 1755.
Alguns destes ecológicos individuos, os mais fervorosos, defenderão ainda que este terá sido desde logo obra do homem, num inexplicável, mas plausivel (aos seus crentes olhos), efeito retroactivo das lacas de cabelo e desodorizantes utilizados por coquettes que só nasceriam 200 anos mais tarde.
Não é que eu seja um gajo céptico, mas estas e outras teorias são me profundamente indigestas e não sou gajo de comer o que me faz mal. Ora, se não me engano, na minha posição de leigo curioso, há cerca de 10 000 anos a Terra, este planeta simpático, tal como o comprovaram os lisboetas de 1755 e os tipos em Pompeia ainda no tempo em que um deus só não chegava e a malta tinha uma mão cheia deles para se haver, era um glaciar imenso com mais de 1 kilómetro de espessura de gelo em plena europa ocidental ( mais uma vez é discutível a influência do homem nesta situação). Considerando que não existe registo de substanciais diferenças de clima no tempo em que Sócrates se passeava apenas com um trapinho à volta do corpo, é de afirmar que em apenas oito mil anos, uma "pequenina" transformação se deu no planeta, e não foi por obra do homem, é um processo que está para lá do nosso controlo. E isso é coisa que não agrada a estas obstinadas, desagradáveis, mas necessárias personagens, que, incapazes de controlar as suas próprias vidas, procuram controlar as dos outros.
Não nego a importância de uma consciência ecológica, mas numa perspectiva civilizada de sustentabilidade que nos sirva, e não como uma cruz que devemos arrastar, como mártires à procura da absolvição.
gozem
Alguns destes ecológicos individuos, os mais fervorosos, defenderão ainda que este terá sido desde logo obra do homem, num inexplicável, mas plausivel (aos seus crentes olhos), efeito retroactivo das lacas de cabelo e desodorizantes utilizados por coquettes que só nasceriam 200 anos mais tarde.
Não é que eu seja um gajo céptico, mas estas e outras teorias são me profundamente indigestas e não sou gajo de comer o que me faz mal. Ora, se não me engano, na minha posição de leigo curioso, há cerca de 10 000 anos a Terra, este planeta simpático, tal como o comprovaram os lisboetas de 1755 e os tipos em Pompeia ainda no tempo em que um deus só não chegava e a malta tinha uma mão cheia deles para se haver, era um glaciar imenso com mais de 1 kilómetro de espessura de gelo em plena europa ocidental ( mais uma vez é discutível a influência do homem nesta situação). Considerando que não existe registo de substanciais diferenças de clima no tempo em que Sócrates se passeava apenas com um trapinho à volta do corpo, é de afirmar que em apenas oito mil anos, uma "pequenina" transformação se deu no planeta, e não foi por obra do homem, é um processo que está para lá do nosso controlo. E isso é coisa que não agrada a estas obstinadas, desagradáveis, mas necessárias personagens, que, incapazes de controlar as suas próprias vidas, procuram controlar as dos outros.
Não nego a importância de uma consciência ecológica, mas numa perspectiva civilizada de sustentabilidade que nos sirva, e não como uma cruz que devemos arrastar, como mártires à procura da absolvição.
gozem
A Melhor Juventude II
"A Melhor Juventude"(2003), de Marco Tullio Giordana, é afinal um épico de seis horas dividido em duas partes, e a segunda foi transmitida, sem aviso prévio, no canal 1 da RTP, já em meados de Janeiro de 2007. O filme é sublime na forma terna e justa com que lida com cada uma das personagens. Conta a história de dois irmãos e de um acontecimento, aparentemente subtil, que molda para sempre, e de uma forma tão distinta, as suas posturas perante a vida. No entanto a vida encarrega-se de adensar o enredo com a arbitrariedade omnipotente, tão sua, e o resultado final.. bom, o resultado final chega ao fim das seis horas como um deleite gastronómico tem, por fim, que terminar, ainda com as recordações dos sabores experimentados tão vivas no paladar.
Um dia, quando aprender a escrever, vou poder descrever o prazer que me deu o filme.
Bom, vão ver o filme!
Um dia, quando aprender a escrever, vou poder descrever o prazer que me deu o filme.
Bom, vão ver o filme!
terça-feira, janeiro 02, 2007
A melhor juventude
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Olhares perdidos II
Mais trágico do que as mulheres não verem em nós o que nós vemos, só mesmo não verem nelas o que nós vemos. *
Olhares Perdidos
"Desde o advento do "Sexo e a Cidade" que o mundo se tornou desnecessariamente complicado: as mulheres passaram a andar pelas ruas em pequenos e despreocupados grupos que, protegidos por uma fachada de auto-suficiência, deixaram de cruzar olhares com estranhos."
Curioso post do classe média.
Curioso post do classe média.
domingo, dezembro 10, 2006
Mais um texto do Pedro Mexia.
O que é que eu posso fazer? Este homem fala por mim..:
O que é que eu posso fazer? Este homem fala por mim..:
"Em quase todas as derrotas, não me empenhei o suficiente. E houve até derrotas que procurei, de tanta falta de empenho. Intempestivo e angustiadamente displicente, como se isso afinal de contas não fosse importante. Mas quando damos tudo, como no poema de Yeats («Never give all the heart»), e falhamos, quando damos o nosso melhor e o nosso melhor não chega, é impossível continuar tudo como dantes, não extrair conclusões, não tomar decisões, não ter algumas dúvidas que são certezas. Quando o nosso melhor não chega, nada disto vale a pena."
domingo, dezembro 03, 2006
Constatação redentora
Sem excepção:
Somos eminentemente falhados.
(Este é o pack base, e não a foto estilo vogue..)
Somos eminentemente falhados.
(Este é o pack base, e não a foto estilo vogue..)
sábado, outubro 07, 2006
Gosto do Terrence Mallick
Uma forma de ver os mitos e a necessidade que todos temos de ter modelos, ou referências culturais, sob risco de orfandade:
"...since unlike most films that self-consciously refer to other films or myths, Malick's films do not engage with them in a particularly critical manner, nor do they understand the notion of myth as something that obscures truth, or legitimizes ideological interests, etc. so that it needs to be “demystified” and “revised”, as in the films of someone like Altman or Godard. Instead, Malick understands myths as “cultural paradigms,” if you will, that function as a precondition for making sense out of the human experience, and that shape the sensibilities of the culture that produces them. Indeed, myths, as recognized as such, are not hypotheses that might or might not turn out to be true, as they serve a completely different function from the presentations of facts."
"...since unlike most films that self-consciously refer to other films or myths, Malick's films do not engage with them in a particularly critical manner, nor do they understand the notion of myth as something that obscures truth, or legitimizes ideological interests, etc. so that it needs to be “demystified” and “revised”, as in the films of someone like Altman or Godard. Instead, Malick understands myths as “cultural paradigms,” if you will, that function as a precondition for making sense out of the human experience, and that shape the sensibilities of the culture that produces them. Indeed, myths, as recognized as such, are not hypotheses that might or might not turn out to be true, as they serve a completely different function from the presentations of facts."
sábado, setembro 30, 2006
Olá II
quarta-feira, setembro 20, 2006
Ecologia, a neurose do século.
"Save The Planet? The planet isn't going anywhere. We are. We're going away, pack your shit folks. We won't leave much of a trace either...Maybe a little Styrofoam. The planet will be here, we'll be long gone, just another failed mutation...The planet will shake us off like a bad case of fleas, a surface nuisance. You want to know how the planet's doing? Ask those people at Pompeii who are frozen into position..." - George Carlin
Este post é provocatóriamente politicamente incorrecto. ;)
Este post é provocatóriamente politicamente incorrecto. ;)
segunda-feira, setembro 18, 2006
A vida é bela!
Alfredo Barroso escreve um muito interessante artigo na revista 6ª, do DN, que destoa no registo actual do discurso, generalizado e beato, dos principais orgãos de comunicação social e difusores da chamada "informação imparcial" ( o que é desde já uma conjugação de palavras anacrónica) que invadem diariamente as nossas casas, e deslumbradas mentes, com a importância dos valores económicos, qual testemunha de jeóva sorridente que convidamos a entrar.
Como uma dona de casa aborrecida, que consome avidamente todas as revistas do cor-de-rosa a que tem direito, também o cidadão comum se congratula de saber as últimas manobras da OPA da Sonae à PT, ou mesmo, das intrigas que estão por trás da última fase de privatização da Portucel, como quem assiste numa posição voyerista aos romances distantes de um circulo social a que a esmagadora maioria nunca terá acesso, mas que logra manter a alegre passividade desta massa anónima eleitora, tão necessária ao funcionamento da máquina económica. Enfeitado de um sorriso infantil, mas desgostoso (como quem tem consciência, esporádica, da sua condição) o cidadão comum, inundado de revistas e suplementos económicos, finge participar numa peça, que disfarçada de democracia, continua a ser representada por uma imensa minoria.
90% do capital bolsista mundial está na mão de 300 milhões de pessoas espalhadas pela Europa, EUA e japão, o que representa algo como 5% da população mundial, e sabendo ainda que a maioria são pequenos e irrelevantes investidores sem poder algum nas empresas em que detêm participações.
Os recursos são finitos e a globalização promete o life style ocidental ao resto da população mundial que queira entrar neste admirável mundo novo, o que parece manifestamente complicado.
Resta saber que vem ai a nova série dos Morangos!!
A vida é bela!
Como uma dona de casa aborrecida, que consome avidamente todas as revistas do cor-de-rosa a que tem direito, também o cidadão comum se congratula de saber as últimas manobras da OPA da Sonae à PT, ou mesmo, das intrigas que estão por trás da última fase de privatização da Portucel, como quem assiste numa posição voyerista aos romances distantes de um circulo social a que a esmagadora maioria nunca terá acesso, mas que logra manter a alegre passividade desta massa anónima eleitora, tão necessária ao funcionamento da máquina económica. Enfeitado de um sorriso infantil, mas desgostoso (como quem tem consciência, esporádica, da sua condição) o cidadão comum, inundado de revistas e suplementos económicos, finge participar numa peça, que disfarçada de democracia, continua a ser representada por uma imensa minoria.
90% do capital bolsista mundial está na mão de 300 milhões de pessoas espalhadas pela Europa, EUA e japão, o que representa algo como 5% da população mundial, e sabendo ainda que a maioria são pequenos e irrelevantes investidores sem poder algum nas empresas em que detêm participações.
Os recursos são finitos e a globalização promete o life style ocidental ao resto da população mundial que queira entrar neste admirável mundo novo, o que parece manifestamente complicado.
Resta saber que vem ai a nova série dos Morangos!!
A vida é bela!
Metamorfose
Processo de transição de uma morfologia esgotada para uma outra reinventada.
A substância perde o seu efeito e é retirada para reformulação..
Chegar ao fim de um ciclo, esbarrar com os limites, sentir o peso de um mundo que não espera por nós, sentir a compressão que asfixia...... Converter-se em água e fluir para o próximo ciclo.
Lavoisier:
"Na natureza, nada se cria, nada se destrói: Tudo se transforma."
A substância perde o seu efeito e é retirada para reformulação..
Chegar ao fim de um ciclo, esbarrar com os limites, sentir o peso de um mundo que não espera por nós, sentir a compressão que asfixia...... Converter-se em água e fluir para o próximo ciclo.
Lavoisier:
"Na natureza, nada se cria, nada se destrói: Tudo se transforma."
quinta-feira, agosto 24, 2006
Bom, já sei que toda a gente tem blogs para poder falar dos filmes que tem visto. Hoje senti-me pouco original e decidi juntar me a esta onda.
A ambiência 80s fluorescente do Scarface e as composições foleiras de saxofone, a contrastar com o argumento sofisticado do Oliver Stone, sabem mesmo bem. Um regresso à fase mais yuppie dos tempos recentes (para não falar dos tempos q correm..) e a busca obstinada dO sonho americano com moral de tragédia Grega. O fio condutor são as peripécias de um personagem que luta a todo o custo por não ser mais um na multidão. Mesmo que seja como bandido feroz. Não se pode ser perfeito..
domingo, agosto 13, 2006
Fiz as pazes com o Kusturica. "Underground" é um filme extraordinário! Um retrato crú, mas fascinante, da natureza humana. Mais uma obra a juntar à lista de bens essenciais a levar para uma ilha deserta ( junto com o gerador, o bidom de diesel, o DVD e a televisão, claro..). E a banda continua a tocar..
terça-feira, agosto 01, 2006
Analogia possivel de apoio a uma vítima da Paixão
"Um viajante inglês conta a intimidade em que vivia com um tigre; criara-o e acariciava-o, mas tinha sempre em cima da mesa uma pistola carregada."
Início de um parágrafo em Vermelho e Negro, do Stendhal.
Início de um parágrafo em Vermelho e Negro, do Stendhal.
sexta-feira, junho 23, 2006
Dia arrastado de ressaca, folheio a revista 6ª do Diário de noticias e deparo-me com este texto:
O Namorado
Sento-me à janela a pensar. É este vidro que me separa da chuva. É esta chuva que separa do mundo. E já não sei o que é sentir o vento fresco bater na cara. Desde que vivo nesta casa, com ela, que não sinto o cheiro a terra molhada. Não tenho fome. A prisão em que ela me tem revolta-me o estômago. Mas talvez seja eu que me prendo a ela. Apesar do ódio, apesar do asco por aquela pele oleosa e vermelha. Na verdade ela é muito bonita. Quando a conheci não sabia como ela era. Via só a rapariga bonita, os cabelos negros, os olhos claros. Pouco tempo depois de nos começarmos a amar, vim viver com ela. Assustei-me com o estado da casa. O pó de meses, não me admirava se de anos, acumulava-se em todos os móveis. Bolas de cotão moviam-se pelo chão, ao ritmo dos nossos passos. Mas eu limpava, e tudo continuava sujo. Como se fosse um estado de espírito da casa. Ela também se deixava ficar a dormitar, todo o dia, ora sobre a cama, ora estendida no sofá. E a beleza dela ia-se afogando num cheiro a sujidade humana, a cansaço extremo.
Quando fazíamos amor, ela olhava-me, e algo dentro dos olhos dela me parecia vivo. Então eu tinha esperança. Ela andava cansada, mas quando recuperasse as energias ia ser só mais uma rapariga normal. E eu tinha vontade de fugir. Mas ia ficando, adormecendo ao lado dela. A primeira vez que eu a vi fazer aquilo, senti o mundo a tremer debaixo dos meus pés. Eu tinha acabado de entrar na cozinha para fazer o jantar e ela estava sentada no chão. Tinha um homem deitado ao lado dela. No peito dele, na camisa branca, viam-se manchas de sangue. Pétalas de rosa de um vermelho muito escuro que se desenhava no tecido branco. Com uma faca ela ia furando a carne. Tinha vida dentro dos olhos, como quando fazíamos amor.
Não fugi, não disse nada. Fui fazer o jantar e esperei que ela se fartasse de estar ali no chão regado de sangue. Enquanto ela tomava banho puxei o homem pelos braços e levei-o para o quintal. Não demorou muito a enterrar porque a terra estava húmida. Continuo a enterrar todas as pessoas que ela mata. Não gosto dela. Não gosto de fazer amor com o corpo dela. Mas estou preso. Não sei que linha inquebrável é esta que nos liga. É este vidro que me separa do mundo. É esta chuva que me separa de mim.
Brutal...
Impossível ficar indiferente a este texto. Fenomenalmente bem escrito e de uma intensidade arrepiante. Que raça!
E pensar que foi escrito pela Liliana Moita, 18 anos, estudante de Ponte de Sor.
O Namorado
Sento-me à janela a pensar. É este vidro que me separa da chuva. É esta chuva que separa do mundo. E já não sei o que é sentir o vento fresco bater na cara. Desde que vivo nesta casa, com ela, que não sinto o cheiro a terra molhada. Não tenho fome. A prisão em que ela me tem revolta-me o estômago. Mas talvez seja eu que me prendo a ela. Apesar do ódio, apesar do asco por aquela pele oleosa e vermelha. Na verdade ela é muito bonita. Quando a conheci não sabia como ela era. Via só a rapariga bonita, os cabelos negros, os olhos claros. Pouco tempo depois de nos começarmos a amar, vim viver com ela. Assustei-me com o estado da casa. O pó de meses, não me admirava se de anos, acumulava-se em todos os móveis. Bolas de cotão moviam-se pelo chão, ao ritmo dos nossos passos. Mas eu limpava, e tudo continuava sujo. Como se fosse um estado de espírito da casa. Ela também se deixava ficar a dormitar, todo o dia, ora sobre a cama, ora estendida no sofá. E a beleza dela ia-se afogando num cheiro a sujidade humana, a cansaço extremo.
Quando fazíamos amor, ela olhava-me, e algo dentro dos olhos dela me parecia vivo. Então eu tinha esperança. Ela andava cansada, mas quando recuperasse as energias ia ser só mais uma rapariga normal. E eu tinha vontade de fugir. Mas ia ficando, adormecendo ao lado dela. A primeira vez que eu a vi fazer aquilo, senti o mundo a tremer debaixo dos meus pés. Eu tinha acabado de entrar na cozinha para fazer o jantar e ela estava sentada no chão. Tinha um homem deitado ao lado dela. No peito dele, na camisa branca, viam-se manchas de sangue. Pétalas de rosa de um vermelho muito escuro que se desenhava no tecido branco. Com uma faca ela ia furando a carne. Tinha vida dentro dos olhos, como quando fazíamos amor.
Não fugi, não disse nada. Fui fazer o jantar e esperei que ela se fartasse de estar ali no chão regado de sangue. Enquanto ela tomava banho puxei o homem pelos braços e levei-o para o quintal. Não demorou muito a enterrar porque a terra estava húmida. Continuo a enterrar todas as pessoas que ela mata. Não gosto dela. Não gosto de fazer amor com o corpo dela. Mas estou preso. Não sei que linha inquebrável é esta que nos liga. É este vidro que me separa do mundo. É esta chuva que me separa de mim.
Brutal...
Impossível ficar indiferente a este texto. Fenomenalmente bem escrito e de uma intensidade arrepiante. Que raça!
E pensar que foi escrito pela Liliana Moita, 18 anos, estudante de Ponte de Sor.
quarta-feira, junho 14, 2006
O mundo aldrabado
Um texto do Pedro Mexia no seu blog, Estado civil:
Eis um dos muitos motivos pelos quais eu gosto tanto de blogues. Um tipo passa o ano a ouvir frases como «Mas custa. Não se fode». E nos jornais e nas revistas nada, nadinha, nem traço disso, nem vestígios dessa realidade, apenas revistas femininas, revistas masculinas, maminhas, modelos, namorados no metro, publicidade, a mui trombeteada revolução sexual, avanço nos costumes, desde 1974 que não sei quê, a Merche, os ginásios, os umbigos, as discotecas, gente disponível, sem preconceitos, sociedade desinibida, segundo um estudo do ICS, segundo um estudo da Católica, segundo o Miguel Vale de Almeida, segundo a conferência episcopal, o hedonismo isto a civilização do corpo aquilo o Giddens aqueloutro. Nos jornais e nas revistas apenas isso, o chinfrim do mundo aldrabado e sem vergonha da sua aldrabice. Haja blogues que contem a vida como ela também é porque a vivemos ou ouvimos contada: «Mas custa. Não se fode».
segunda-feira, maio 22, 2006
Paul Auster escreve a dada altura no seu último livro, "Brooklin Follies":
"Todo o homem contém em si vários homens, de maneira que nós - ou enfim, a maior parte de nós- andamos sempre a saltar de personalidade em personalidade sem nunca chegarmos a saber quem realmente somos."
Disse ele, e disse muito bem.
E assim começo um novo blog..
Um blog que traduz a minha qualidade ociosa de espectador. Confessado exercício de apologia à minha faceta de eterno aprendiz e insaciável consumidor da genialidade alheia. Fase intermédia para atingir uma mais nobre posição de criador, e personagem participativa, que irei tentar explorar o mais possível com pequenas intervenções pessoais; as quais espero virem a assumir uma frequência crescente ao longo do tempo.
Uma amiga manda-me um sms dizendo que "Forever Young" é uma canção foleira.
O tanas. Aos 33 anos, eu acho que é mais que uma canção: é um documentário. Um documentário inesquecível.
A letra é Wordsworth do melhor. O romântico inglês escreveu, cheio de optimismo melancólico:
That though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendor in the grass, of glory in the flower
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.
Os alemães com brilhantina, mais cépticos, traduzem para as massas:
Let's dance in style, lets dance for a while
Heaven can wait we're only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?
Let us die young or let us live forever
We don't have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The music's for the sad men
Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever? Forever young
Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why don't they stay young
It's so hard to get old without a cause
I don't want to perish like a fading horse
Youth's like diamonds in the sun
And diamonds are forever
So many adventures couldn't happen today
So many songs we forgot to play
So many dreams swinging out of the blue
We let them come true
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young.
E eles têm uma coisa que Wordsworth não tinha: uns sintetizadores épicos do catano. O que somado dá uma canção sublime, fantasmática, de uma tristeza inescapável como um céu de chumbo. Que isto venha de uns gajos banais da vasta legião synth-pop é estranho e talvez incompreensível; mas foleiro é que isto não é. Excepto na medida em que as nossas vidas são altamente foleiras.
Encontrei este texto no estado civil.
O tanas. Aos 33 anos, eu acho que é mais que uma canção: é um documentário. Um documentário inesquecível.
A letra é Wordsworth do melhor. O romântico inglês escreveu, cheio de optimismo melancólico:
That though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendor in the grass, of glory in the flower
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind.
Os alemães com brilhantina, mais cépticos, traduzem para as massas:
Let's dance in style, lets dance for a while
Heaven can wait we're only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?
Let us die young or let us live forever
We don't have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The music's for the sad men
Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the sun
Praising our leaders we're getting in tune
The music's played by the mad men
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever? Forever young
Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why don't they stay young
It's so hard to get old without a cause
I don't want to perish like a fading horse
Youth's like diamonds in the sun
And diamonds are forever
So many adventures couldn't happen today
So many songs we forgot to play
So many dreams swinging out of the blue
We let them come true
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever
Forever young, I want to be forever young.
E eles têm uma coisa que Wordsworth não tinha: uns sintetizadores épicos do catano. O que somado dá uma canção sublime, fantasmática, de uma tristeza inescapável como um céu de chumbo. Que isto venha de uns gajos banais da vasta legião synth-pop é estranho e talvez incompreensível; mas foleiro é que isto não é. Excepto na medida em que as nossas vidas são altamente foleiras.
Encontrei este texto no estado civil.
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