Vi o Sicko do Michael Moore e recomendo-o.
Sobretudo lembrou-me que o sistema nacional de saúde, comum à maioria dos estados ocidentais, não é apenas uma questão económica. É o reflexo da sociedade em que queremos viver. A vida é incerta, a morte nem tanto. O último reduto de uma ideia de conjunto que podemos alimentar é o respeito inequivoco por esse bem frágil e precioso que é a vida de cada um. Pagamos impostos para que um dia, quando mais precisarmos, sabermos que a comunidade partilha a sua cota de responsabilidade no apaziguar do nosso sofrimento. E isto, como dizê-lo, é uma ideia bonita, mas infelizmente violável.
Embora esquecido e invisivel aos nossos olhos, que damos por adquirido o direito aos cuidados de saúde universais, existe um país, curiosamente o mais rico do mundo, onde esta certeza não existe. Aqui o direito ao tratamento é negociado entre as seguradoras e cada um dos cidadãos anónimos, como se de um bem material se tratasse. É chato negociar o arranjo de um pára-choques amolgado, mas mais delicado é negociar um transplante de medula, ou um antibiótico quando disso depende a nossa vida. De um lado uma pessoa desperada, do outro uma equipa de advogados. Negar o primeiro é oportunismo contabilístico, negar o segundo é perverso, quando sabemos que o doente em causa não tem alternativa acessivel.
Um tipo com fome, ou ressaca, que aponta uma arma pelos 200 dólares duma caixa registadora é preso como uma ameaça à sociedade, um outro que promove, com calculista lucidez, a aprovação de uma lei que condena milhões de pessoas a uma degradação ou morte evitável, conquista um salário de 2 milhões de dólares e o topo da hierarquia social.
O que me leva a pensar que o Bin Laden, ao pé destes senhores, é um menino. E as crianças têm o direito de brincar... sobretudo se for na casa de um destes senhores.
quinta-feira, maio 01, 2008
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