"Todo o comportamento de Dalila não insinua sequer o amor, e, contudo, é esta mulher traidora e cruel que sansão adora, e, como já notámos, pode bem ser que seja essa faceta de traição que nela ama, o que força o leitor a ampliar e afrouxar a vera definição de amor: é, provavelmente, a crueldade de Dalila, a sua paixão quase transparente por o ferir que o amarra a ela com laços ínvios, laços estes revelando-se mais fortes do que quaisquer outros precedentes e que, por conseguinte, pela primeira vez, lhe despertam o amor.(...)
E se, pelo seu lado, era vero amor, pode-se suspeitar (talvez apenas por mero desejo nosso) que Sansão permita que Dalila o engane repetidas vezes porque espera, em plena desesperança, estar ele próprio enganado;(...)
Talvez. E por causa disto ele lhe confiou kol libo, nada menos que o seu coração inteiro, que ela acusara de arrendamento e engano: tudo o que ele tinha ocultado, suprimido e entesourado dentro, por tantos anos. Num lapso momentâneo, Sansão dá-lhe tudo, com o mesmo género de loucura, de esbanjamento de cortar a respiração que por vezes aflige o mais retrógado dos míseros; com a tola inocência daquele que acredita que se confiar alguma coisa a outra pessoa, de repente, numa espécie de transferência instantânea, finalmente chegará a um sentimento de intimidade autêntica."
Love sucks!
Determinadas análises trazem-me um misto de consolo e inquietação..
Até que ponto são as nossas experiências pessoais genuínas, se as encontramos descritas por alguém a quem nada confessámos.
terça-feira, maio 15, 2007
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1 comentário:
São tão mais genuínas por isso mesmo, porque ao serem sentidas por outros, são "reproductíveis", é o beliscão que as tira do enclausurante devaneio, da alucinação bafienta que nos sufoca...Truth always forceth its way into rational minds...
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